Aos onze dias do mês de julho do ano dois mil e quatro, às dezesseis horas, na Rua Dona Ziza nº 679, Vila Zoé, Campo Grande/MS, reuniram-se em Assembleia Geral de Constituição, os fundadores da associação Espaço Vida Ativa – EVA, entidade a promover melhor qualidade de vida aos jovens e adultos com deficiência.
Consta na ata da fundação da associação, que a Senhora Maria Inêz da Costa, presidente da mesa, tomando a palavra, muito emocionada, disse que a fundação da Associação era a concretização de um sonho a muito por ela almejado, pois, como avó da Bruninha, deficiente Intelectual, vivenciava desde o seu nascimento a dificuldade de sua inclusão na vida em sociedade, a começar pela falta de escolas realmente inclusivas até o preconceito e discriminação da sociedade em conviver e criar oportunidade para a pessoa com deficiente.
Dona Inêz disse ainda que os jovens com deficiências, filhos das famílias fundadoras da Associação EVA, pertenciam a uma mesma escola regular, com excelente ensino pedagógico, mas que faltavam atividades diferenciadas da rotina escolar, como: lazer, recreação, esporte, cultura e encontros familiares, assim sendo, foi a partir desses questionamentos com as mães e responsáveis por esses jovens, que surgiu a ideia da criação da “Associação Espaço Vida Ativa – Eva”, propondo-se justamente a cobrir esta lacuna.
O Objetivo da Associação foi a de criar um centro de convivência e Apoio para jovens com deficiências, para que eles pudessem ter um local de encontro, lazer e entretenimento, bem como oferecer aos mesmos, atendimentos multidisciplinares com fins terapêuticos, educacional e sócio assistencial.
Na Fundação da Associação Espaço Vida Ativa- EVA, encontrava –se a Senhora Eva Molina, mãe de Daniela Molina, (deficiente Intelectual) que seria a maior responsável pela associação. Após a ata de Fundação, essa senhora veio a falecer, devido a um acidente de carro, onde estava em viajem para o Rio de Janeiro com seu esposo Orlando Molina, este tinha familiares nesta cidade.
Com a morte de D. Eva Molina, a associação ficou por conta das mães que não tiveram como administrar a Associação, pois todas tinham os seus afazeres durante a semana, mas mesmo assim, marcavam encontros nos fins de semana, em lugares diversos e depois em uma casa em comodato.
Voltando um pouco em 2002, eu, Janete Bakargy, professora de música, proprietária da escola de música (Centro Musical JELL) na época localizada à Rua Bahia, 119, lecionando partitura universal para pessoas ditas (Normais), passava em frente dessa escola todos os dias uma jovem com deficiência Intelectual e sua mãe, onde um dia, esteve na escola e D. Luzia, sua mãe, me pediu para que eu ministrasse aulas de música para sua filha Kássia.
Eu, vendo que a filha era deficiente não aceitei fazer a sua matrícula. Passou mais uma semana e lá estavam as duas pedindo para que eu atendesse essa jovem, pois ela queria muito fazer aulas de teclado, pois moravam perto e sempre passava ali na frente e ouvia o som dos instrumentos. Neguei novamente por motivo de não ter preparo para tal. Mais uma semana e lá estava a mãe implorando para que eu aceitasse sua filha, mesmo que fosse para ela ficar ouvindo músicas. Ela me disse ainda que sua filha gostava de colorir, e sabia cobrir palavras, que pagava o horário de atendimento e que não cobraria estudo de partitura normal como os outros meus alunos de música. Não tive outra opção a não ser concordar com elas.
No início, pedi um caderno de desenho, preparei carimbos de instrumentos musicais, comecei a trabalhar com pinturas e escritas ao som de musicas de um gravador com CDs. Apresentei o teclado e observei qual a sua reação. Ela vibrava quando colocava sua mão nas teclas do teclado musical e saia um som, fosse ele qual fosse. Elas pediam tarefas no caderno e eu passava, pois a Kássia vinha duas vezes na escola no período vespertino e os outros dias fazia as tarefas em casa com a ajuda da mãe. Tal era a felicidade da filha que a mãe indicou meus trabalhos para outra família que também tinha uma jovem com deficiência intelectual. Tudo isso começou em Outubro, e eu cheguei a dezembro com três alunos com deficiência intelectual.
Entramos em férias, e eu apavorada pensando: o que fazer se eles voltarem? Como poderei continuar sem que ensino músicas para eles? Como ensinar musica para pessoas com deficiências?
Vários alunos ditos normais já conheciam esses três jovens com deficiências, pois se encontravam na secretaria, e dentre esses três, uma aluna era a Daniela Molina, deficiente intelectual, porém ativa, simpática e sociável.
Foi então que, falando com um aluno dito “normal” que eu tinha observado que esses alunos com deficiência gostava de luzes, pois tinha algo com luzes na sala que chamava a atenção deles e que eu pensava em mandar fazer uma placa com circuito eletrônico que seria colocada no teclado e outra no computador, que através de luzes, as notas das partituras chegariam até as teclas do teclado onde os alunos com deficiências poderiam tocar. Fui fazer orçamento e somente a placa mãe para o computador, na época ficaria em quinze mil, mais a parte do teclado que seria trabalho de um técnico de equipamentos eletrônicos. Para minha surpresa, esse aluno disse que tinha visto em Ponta Porã um teclado com algo parecido, tinha 100 músicas gravadas e registros para que uma luz parasse onde a nota deveria ser tocada. Pronto, lá estava eu, em janeiro 2003, em Ponta Porã.
Comprei o teclado e fui estuda-lo. Preparei matérias e abri a escola de música (Centro Musical JELL) em março. Não só os três alunos voltaram como outros fazendo a matrículas junto com eles, e dentre eles a aluna a Daniela Molina.
Em agosto de 2003 fizemos o primeiro recital executado por pessoas com deficiências no auditório do SEBRAE, campo Grande/MS, com a impressa Correio do Estado fazendo uma matéria. Logo fui convidada a ministrar aulas em outra escola de pessoas com deficiências, onde fiquei por dois anos, duas vezes na semana período vespertino, deixando o Centro musical JELL com outra professora, lecionando para pessoas ditas “Normais”.
Fizemos outros recitais de teclado no auditório do SEBRAE, e tão grande foi a procura que eu optei por atender somente alunos com deficiências, indicando assim outras escolas de músicas para alunos sem deficiências.
Voltando para dezembro de 2004, atendendo a DANIELA MOLINA, já por dois anos, esta foi com seu pai e madrasta para o Rio de Janeiro passar o natal, estavam voltando e novamente tiveram um acidente de carro onde morreu o Senhor Orlando Molina, a madrasta e a própria Daniela Molina.
A Associação Espaço Vida Ativa – EVA funcionava em vários locais com encontros aos finais de semana, mas não tinha uma pessoa disposta a trabalhar durante a semana, pois todos tinham os seus afazeres.
Foi quando, fui convidada a assumir a diretoria da mesma, pois sempre participava da Associação ajudando com a parte musical. Aceitei a ser presidente da Associação, porém, continuaria os estudos para poder ajudar melhor as pessoas com deficiências.
Entrei no curso de Pedagogia. Formei-me. Passei a diretoria para outras pessoas de minha inteira confiança para me preparar melhor. Fiz a primeira pós em Psicopedagogia, a segunda em Artes, Ludicidade e Educação Musical. Hoje estou fazendo a terceira pós-graduação em educação especial Inclusiva e estou me matriculando na segunda graduação: Serviço social, pois acho que um curso completa o outro.
No momento estamos trabalhando somente com doações de amigos e familiares, com parcerias com a Faculdade UNIGRAN CAPITAL E UNIDERP.
Já realizamos projetos com emendas de vereadores e batalhamos ainda para termos a Inscrição da Associação no Conselho de Assistência Social (CMAS), pois só assim poderemos receber verbas e outras emendas.
A Associação Espaço Vida Ativa – EVA conta hoje com 30 famílias associadas, atendendo nas áreas da Assistência Social, Psicopedagogia, Psicologia, Musica e artes, sendo na semana alunos com horários marcados, 45 minutos cada atendimento e aos sábados quinzenais com festas e eventos, onde eles podem se encontrar e participar de momentos de entretenimento, lazer e educação.
Nossa Missão hoje é promover a inclusão social e o bem estar deles, para eles, e por eles na “Associação Espaço Vida Ativa” – EVA e na comunidade.
– Janete Bakargy Morais